As imagens significam tudo a princípio. São sólidas. Espaçosas.
Heiner Müller
Os poemas são meio surdos e as imagens a princípio
não são de ninguém. O olho é que inflama. A imagem
chuvisca. Os poemas também mas a imagem arrisca.
O poema incendeia, reconsidera, desiste. Nem a espiral
de um ponto de vista ardentemente perseguido nem grãos
de luz sem destino. O olhar exploratório ainda não é a
imagem. Os poemas são sapatos. As imagens emborcam.
Os poemas são ardências, são porradas. Imagens não
perdoam, o poema trespassa. A palavra rompe a mordaça,
a imagem nem sempre resvala, espera. O poema diz
em nome próprio no parco som das cordaturas.
O espaçamento nos libertará do duplo laço? Mas isso
ainda não é o poema. A imagem regateia. Os poemas
persistem. Abelhas e todo um mundo a ser envenenado.
Imagens duplicam antigas provas de existência. São
escamosas, são amargas, são Medéias. Os poemas
são cansaços. As imagens apodrecem. Os poemas são
incensos, esvoaçam. Poemas ofendem. Imagens acusam.
Epifania é um encontro na luz, uma imagem pode ser
isso e ser também o seu contrário. O poema alastra. A
imagem recua. O poema excita. A palavra é gasta, a
imagem encrua. A imagem puxa o corpo pelos cabelos, o
poema, o punho o logro. No poema eu respiro contigo. A
imagem é sempre outra coisa. O poema vela. As imagens
nos despojam do sudário. Tudo começa numa cova
ou na chispa do artifício. A imagem trincha, o poema
entumesce. Acontece no silêncio de uma imagem ser
escudo. O poema é de plástico. A imagem suborna, é o
floema, o influxo, o caldo. Nem todo desenho é imagem.
O arco do poema enverga a prosa. A imagem transtorna,
vem no vento que espalha os papéis. O poema glosa.
O poema é uma devassa, desce pelas coxas enquanto
a imagem diz vem, é agora. O poema na sombra das
coisas. A imagem cheia de moscas. Vem, é agora.
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